Entenda o que é sonambulismo, suas causas, sintomas e como lidar com quem caminha dormindo. Conheça os mitos e verdades sobre esse distúrbio do sono que afeta milhões de pessoas no mundo todo.

Você já acordou no meio da noite e encontrou alguém da sua família andando pela casa com os olhos abertos, mas completamente dormindo? Talvez você mesmo já tenha passado por essa experiência assustadora de acordar em um lugar diferente de onde foi dormir, sem se lembrar de como chegou lá. Se isso aconteceu com você ou alguém próximo, saiba que não está sozinho. Milhões de pessoas pelo mundo vivem essa realidade todas as noites, navegando entre o mundo dos sonhos e a realidade de uma forma que nem elas mesmas conseguem controlar.
O sonambulismo é muito mais comum do que imaginamos e, por mais estranho que pareça, é uma condição que merece nossa compreensão e cuidado. Afinal, como é possível uma pessoa caminhar, abrir portas e até mesmo realizar tarefas complexas enquanto dorme profundamente?
O que é sonambulismo e como acontece
O sonambulismo é um distúrbio do sono que faz com que a pessoa se levante e ande enquanto está dormindo. Imagine como se o corpo “acordasse” para se movimentar, mas a mente continuasse no mundo dos sonhos. É exatamente isso que acontece durante um episódio de sonambulismo.
Durante uma noite normal de sono, passamos por diferentes fases. É como se nosso cérebro fosse uma casa com vários andares, e em cada andar acontecessem coisas diferentes. O sonambulismo geralmente ocorre no “andar mais profundo” do sono, quando nossa mente deveria estar completamente desligada do mundo real.
Como reconhecer um episódio de sonambulismo
Identificar quando alguém está tendo um episódio não é sempre fácil, principalmente porque cada pessoa pode apresentar comportamentos diferentes. Alguns sinais mais comuns incluem:
Comportamentos típicos durante o episódio:
- Caminhar pela casa de forma lenta e desajeitada
- Olhar fixo e vazio, como se estivesse olhando através das coisas
- Não responder quando chamado pelo nome
- Falar palavras sem sentido ou murmurar
- Realizar ações simples, como abrir portas ou gavetas
- Ir ao banheiro ou à cozinha automaticamente
É importante entender que a pessoa não está fingindo ou brincando. Durante o episódio, ela realmente está dormindo, mesmo com os olhos abertos e se movimentando.
Quem pode ter sonambulismo?
Você pode ficar surpreso ao saber que o sonambulismo é muito mais frequente em crianças do que em adultos. Estudos mostram que cerca de 1 em cada 5 crianças já teve pelo menos um episódio de sonambulismo durante a infância.
Sonambulismo em crianças
Nas crianças, geralmente começa a aparecer entre os 4 e 8 anos de idade. A boa notícia é que, na maioria dos casos, os episódios diminuem ou desaparecem completamente quando a criança chega na adolescência. Isso acontece porque o cérebro das crianças ainda está se desenvolvendo, e as partes responsáveis pelo controle do sono estão “aprendendo” como funcionar corretamente.
Pense assim: é como se o cérebro da criança fosse um carro novo que ainda está sendo regulado. Às vezes, algumas peças não funcionam perfeitamente juntas, mas com o tempo, tudo se ajusta naturalmente.
Sonambulismo em Adultos
Embora seja menos comum, alguns adultos também podem apresentar episódios. Quando acontece na idade adulta, geralmente está relacionado a outros fatores como estresse, ansiedade, uso de medicamentos ou outros problemas de saúde.
As verdadeiras causas do sonambulismo
Diferente do que muitas pessoas pensam, o sonambulismo não é causado por problemas psicológicos graves ou traumas. Na verdade, as causas são muito mais simples e compreensíveis do que imaginamos.
Fatores hereditários
A genética tem um papel importante no sonambulismo. Se você tem pais ou avós que já tiveram episódios, existe uma chance maior de você também ter. É como uma característica de família, igual à cor dos olhos ou a altura. Não é algo de que se envergonhar, é simplesmente uma característica que pode ser passada de geração para geração.
Fatores do dia a dia
Várias situações do nosso cotidiano podem aumentar as chances de ter um episódio:
Falta de sono: Quando não dormimos o suficiente, nosso cérebro fica confuso e pode “misturar” as fases do sono.
Estresse e ansiedade: Preocupações do dia a dia podem afetar a qualidade do nosso sono, criando condições para o sonambulismo aparecer.
Mudanças na rotina: Viajar, mudar de casa ou qualquer alteração significativa na rotina pode desencadear episódios.
Febre: Especialmente em crianças, febres altas podem aumentar a probabilidade de sonambulismo.
Medicamentos: Alguns remédios para dormir ou outros medicamentos podem ter como efeito colateral o aumento dos episódios.
Mitos e verdades sobre o sonambulismo
Existe muita informação errada circulando sobre o sonambulismo. Vamos esclarecer algumas das crenças mais comuns:
Mito: “nunca acorde um sonâmbulo”
Verdade: Na realidade, acordar um sonâmbulo não é perigoso, apenas pode deixá-lo confuso por alguns segundos. O que realmente pode ser perigoso é deixar a pessoa continuar caminhando e se machucar.
Mito: “sonâmbulos têm força sobrehumana”
Verdade: Durante o episódio, a pessoa mantém sua força normal. Não existe nenhum poder especial envolvido.
Mito: “é possível controlar um sonâmbulo”
Verdade: A pessoa não pode ser controlada ou direcionada facilmente durante o episódio, pois está realmente dormindo.
Mito: “sonambulismo é sinal de problema mental”
Verdade: O sonambulismo é um distúrbio do sono, não uma doença mental. A maioria das pessoas que tem episódios são completamente normais e saudáveis.
Como lidar com uma pessoa em episódio de sonambulismo
Se você mora com alguém que tem sonambulismo ou se deparar com essa situação, é importante saber como agir de forma segura e carinhosa.
O que fazer durante um episódio
Mantenha a calma: A primeira e mais importante regra é não entrar em pânico. Lembre-se de que a pessoa não está em perigo imediato, apenas precisa ser cuidada.
Guie gentilmente: Em vez de tentar acordar bruscamente, guie a pessoa de volta para a cama com movimentos suaves e voz calma.
Fale com voz baixa: Use um tom de voz tranquilo e reconfortante, como se estivesse falando com alguém que está meio acordado.
Não force: Se a pessoa resistir ou parecer agitada, não force. Apenas certifique-se de que ela está em um ambiente seguro.
O que NÃO fazer
Não grite: Gritar ou fazer ruídos altos pode assustar e confundir ainda mais a pessoa.
Não segure com força: Segurar firmemente pode causar medo e fazer com que a pessoa se debata.
Não faça perguntas complexas: Durante o episódio, a pessoa não consegue processar informações complicadas.
Medidas de segurança para prevenir acidentes
A segurança é a principal preocupação quando se trata de sonambulismo. Como a pessoa está dormindo, ela não tem noção dos perigos ao redor.
Preparando o ambiente
Remova obstáculos: Mantenha o caminho entre o quarto e outras partes da casa livre de objetos que possam causar tropeços.
Tranque portas e janelas: Use travas de segurança em portas que dão para a rua ou janelas de andares altos.
Proteja escadas: Instale portões de segurança no topo das escadas.
Guarde objetos perigosos: Mantenha facas, ferramentas e outros objetos cortantes em locais seguros e trancados.
Use alarmes: Existem alarmes especiais que podem ser colocados na porta do quarto para alertar quando a pessoa sair.
Criando uma rotina segura
Horário regular de sono: Manter uma rotina de sono consistente pode reduzir significativamente os episódios.
Ambiente tranquilo: O quarto deve ser um local calmo, escuro e silencioso.
Evite estimulantes: Cafeína e outros estimulantes devem ser evitados, especialmente à noite.
Quando procurar ajuda médica
Embora o sonambulismo seja geralmente inofensivo, existem situações em que é importante buscar orientação médica profissional.
Sinais de alerta
Procure um médico se os episódios apresentarem estas características:
Frequência alta: Se acontecem várias vezes por semana ou todas as noites.
Comportamentos perigosos: Se a pessoa tenta sair de casa, subir em lugares altos ou manipular objetos perigosos.
Duração longa: Se os episódios duram mais de alguns minutos.
Início na idade adulta: Quando o sonambulismo começa depois dos 18 anos, pode indicar outros problemas de saúde.
Ferimentos: Se a pessoa se machuca durante os episódios.
Tratamentos disponíveis
A boa notícia é que existem várias formas de tratar o sonambulismo quando necessário:
Higiene do sono: Melhorar os hábitos de sono é sempre o primeiro passo. Isso inclui dormir em horários regulares, evitar telas antes de dormir e criar um ambiente adequado para o descanso.
Redução do estresse: Técnicas de relaxamento, exercícios físicos regulares e terapias podem ajudar a diminuir a ansiedade que pode estar contribuindo para os episódios.
Medicamentos: Em casos mais graves, o médico pode prescrever medicamentos específicos que ajudam a regular o sono.
Terapia comportamental: Alguns profissionais trabalham com técnicas específicas para ajudar a controlar os episódios.
Sonambulismo e qualidade de vida
É importante entender que ter sonambulismo não significa que a pessoa terá uma vida limitada ou diferente. Com os cuidados adequados e algumas adaptações simples, é possível viver normalmente.
Impacto na família
Quando alguém na família tem sonambulismo, todos precisam se adaptar um pouco. Isso pode significar:
- Dormir com as portas abertas para ouvir se há movimento
- Fazer pequenas modificações na casa para maior segurança
- Conversar abertamente sobre o assunto para que todos entendam o que está acontecendo
- Ter paciência e compreensão nos dias seguintes aos episódios
Vida social e escolar
Crianças com sonambulismo podem se sentir envergonhadas ou diferentes dos colegas. É importante que os pais e professores ofereçam apoio e explicem que isso é mais comum do que se imagina. Muitas vezes, simplesmente conversar sobre o assunto de forma natural já ajuda a criança a se sentir mais confortável.
Cuidados especiais em diferentes situações
Viagens e mudanças
Quando uma pessoa com sonambulismo precisa dormir em um lugar diferente, alguns cuidados extras são necessários:
Reconheça o ambiente: Antes de dormir, caminhe pelo local para identificar possíveis perigos.
Comunique-se: Se estiver hospedado na casa de alguém, explique sobre o sonambulismo para que as pessoas saibam como agir.
Mantenha a rotina: Tente manter os horários de sono o mais próximo possível da rotina normal.
Na escola ou trabalho
Se os episódios afetam o sono e, consequentemente, o desempenho durante o dia, é importante:
- Conversar com professores ou chefes sobre a situação
- Buscar ajuda médica se o cansaço estiver prejudicando as atividades
- Manter uma rotina de sono ainda mais rigorosa
A ciência por trás do sonambulismo
Para entender melhor o que acontece durante um episódio, é útil conhecer um pouco sobre como nosso cérebro funciona durante o sono.
As fases do sono
Nosso sono é dividido em diferentes estágios, como uma escada que subimos e descemos durante a noite. O sonambulismo acontece principalmente no estágio mais profundo, quando nosso corpo deveria estar completamente relaxado.
Durante esse período, a parte do cérebro responsável pelo movimento “acorda” enquanto a parte responsável pela consciência continua dormindo. É como se duas partes diferentes do cérebro estivessem trabalhando em horários diferentes.
Por que alguns têm e outros não
A diferença entre quem tem sonambulismo e quem não tem está principalmente na forma como o cérebro processa as transições entre as fases do sono. Algumas pessoas têm um “interruptor” mais sensível, que pode ser ativado por fatores como cansaço, estresse ou mudanças na rotina.
Convivendo com o sonambulismo: uma perspectiva positiva
É fundamental compreender que o sonambulismo não é uma limitação permanente ou um problema grave na maioria dos casos. Muitas pessoas que tiveram episódios na infância cresceram normalmente e vivem vidas completamente saudáveis.
Desenvolvendo resiliência
Famílias que lidam com o sonambulismo frequentemente desenvolvem:
- Maior união e cuidado mútuo
- Melhor comunicação sobre questões de saúde
- Mais consciência sobre a importância do sono
- Habilidades para lidar com situações inesperadas
Educação e conscientização
Quanto mais as pessoas entenderem sobre o sonambulismo, menos medo e preconceito existirão. Isso beneficia não apenas quem tem os episódios, mas toda a comunidade.
Tecnologia e sonambulismo
Hoje em dia, existem várias tecnologias que podem ajudar no manejo do sonambulismo:
Dispositivos de monitoramento
Aplicativos de sono: Alguns aplicativos podem detectar movimentos durante a noite e alertar sobre possíveis episódios.
Sensores de movimento: Dispositivos que podem ser colocados no quarto para monitorar atividade durante o sono.
Câmeras de segurança: Embora não seja necessário para todos, algumas famílias optam por ter câmeras para entender melhor os padrões dos episódios.
Alarmes inteligentes
Existem sistemas que podem detectar quando alguém sai da cama durante a noite e enviar alertas para outros membros da família.
Conclusão
O sonambulismo pode parecer assustador à primeira vista, mas quando entendemos melhor esse fenômeno, percebemos que é apenas mais uma das muitas maneiras fascinantes como nosso cérebro funciona. A maioria das pessoas que tem episódios consegue viver normalmente com alguns ajustes simples e cuidados básicos de segurança.
O mais importante é lembrar que você não está sozinho nessa jornada. Milhões de pessoas ao redor do mundo compartilham essa experiência, e existe muito apoio disponível quando necessário. Seja paciente consigo mesmo ou com seu familiar que tem sonambulismo, com tempo, compreensão e os cuidados adequados, é possível manter uma vida plena e segura.
Se você tem dúvidas sobre sonambulismo ou se os episódios estão causando preocupação, não hesite em procurar orientação médica. Um profissional de saúde pode oferecer conselhos personalizados e, se necessário, sugerir tratamentos que podem ajudar significativamente.
A chave para lidar bem com o sonambulismo é a informação, a paciência e o cuidado. Com esses elementos, você pode transformar o que inicialmente pode parecer um problema em apenas mais uma característica da vida que pode ser gerenciada com sucesso.
Alessandra Alvarenga – Psicóloga